CRÔNICA: "LA VIOLETERA"
Não sei se acontece com todo adolescente de se apaixonar perdidamente por algum ídolo, a ponto de sonhar com essa quimera por longos e longos anos.
Comigo aconteceu, desde meus doze anos, quando assisti, em 1964, a película “La Violetera” e apaixonei-me, irremediavelmente, pela atriz espanhola Sara Montiel.
No decorrer das décadas assisti a todos seus outros filmes: Pecado de Amor, Carmen La de Ronda, Vera Cruz, Mi ultimo Tango, Esa Mujer, etc etc e para mim, nunca existiu outra mulher mais bela na face da terra.
Nos devaneios de minha juventude, tivemos muitos encontros fantasiosos, onde ela recebia-me em sua casa, cantava para mim, passeava comigo por Madrid (imaginava que ali seria sua linda mansão), mostrando ao mundo seu namorado brasileiro, com maior orgulho.
Chegamos até a “filmar” uma película como par amoroso, num enredo onde tudo se misturava: Zorro, Pancho Villa, Violetas, Toureiros e até a cantora Libertad lamarque.
Queria aprender o idioma espanhol, a todo custo, e assim estar preparando para o tão esperado momento em que estivéssemos juntos, trocando sussurros “bajo el brillo plateado de una luna madrileña”
Mas que nada; meu pai não quis pagar o curso e o pouco que aprendi do idioma de Cervantes, foi através de um livro espanhol de gramática e leitura que a professora Celina Rosa emprestou-me, o qual jamais foi devolvido à dona!
Mas o livro didático, afora a gramática, versava somente sobre as regiões da Espanha, suas cidades, suas praças: Como eu poderia levar um papo romântico com minha musa se sabia dizer apenas que “La Plaza Mayor tenia uma fuente crystalina...” Ou então: “El clima de Granada Capital es seco, El cielo despejado y son raros lós vientos fuertes, las nieblas y las nieves”!!!
Passei, então, a ouvir por dezenas de vezes, os long plays de Sara Montiel (que também era cantora) para aprender a “hablar las cosas dulces y romanticas, por ella cantadas”, naquela voz grave e sensual que mais pareciam sussurros.
Toda vez que era lançado um disco novo, a Darci lá da Loja Anfe ligava para mim: Tista, chegou mais um!
Até hoje sei de cor muitas de suas canções.
Anos se passaram , eu fiquei adulto, namorei muito, casei-me cedo, a querida Sarita envelhecendo e nada de acontecer o tal encontro que já “estava escrito nas estrelas”.
Não é que isso um dia aconteceu! – Dá a vontade de parar por aqui e dizer para vocês “Continua na próxima semana...”
Mas dá dó, né? Então vou terminar rapidinho:
No ano de 1976, eu e minha esposa (que não por acaso tem sangue espanhol) morávamos em São Paulo e um amigo nosso me falou: “Tista, a Sarita Montiel está no Brasil e vai fazer uma apresentação lá no Anhembi, vamos?”
Fomos escondidos de minha mulher (aliás, inventei uma mentira, descoberta mais tarde, de que iria até o Bairro Pompeia, visitar uma tia que estava “nas últimas”) e lá fomos nós.
Sentei-me na primeira fileira e quando minha musa surgiu no palco num longo vestido azul, super decotado, quase tive uma síncope! Ela já estava com 44 anos, mas em perfeito estado de conservação e manutenção, com aqueles enormes seios querendo saltar do decote.
A primeira canção que ela apresentou chamava-se “El Polichinelo” e ela, enquanto cantava, dava uns pulinhos, imitando o salto do polichinelo. Não é que num desses pulos escapa-lhe do decote um dos seios que ficou inteiramente à mostra!!!
Foi um Ohhhh! Geral. Uma verdadeira comoção e fiquei assim, meio encantado e meio enciumado porque todo mundo estava vendo o que eu sempre quis ter o privilégio de ver durante décadas.
Com todo seu encanto, ela simplesmente exclamou: “Opa que me escapa una!”, devolvendo para dentro do decote, aquilo que jamais veríamos novamente. Foi um momento sublime!
Mas o maior encanto aconteceu na canção final, obviamente “La Violetera”, música chefe de toda sua carreira.
Como no filme, ela desfilava pela plateia com um cesto de vime no braço, repleto de violetas azuis. Voltando ao palco, com o cesto já vazio, apenas com um dos ramos na mão, ela olhou para mim, que pedia desesperado a flor, deu um beijo no raminho e jogou na minha direção.
A flor caiu a meus pés e não é que um “filho da puta” de um cara que estava ao meu lado jogou-se no chão, ao mesmo tempo que eu e naquele "mucuvuco" de que :”É meu, é meu!” despedaçamos em mil aquele raminho mimoso que seria guardado por mim eternamente.
Ano passado, quando soube de sua morte, aos 84 anos, foi como se eu tivesse perdido uma velha conhecida e com ela foi-se uma parte “de mi belo pasado de ayer”!
Qué Diós La tenga en Sus brasos!
Terminando, passo para vocês a deliciosa receita de frango Andaluz que servi, ontem em nosso jantar espanhol na Pousada do Bosque:
FRANGO ANDALUZ
- 4 sobrecoxas de frango
- 2 tomates maduros grandes, picados (sem pele nem sementes)
- 1 cebola picada finamente
- 2 dentes de alho esmagados
- gemas de 2 ovos cozidos
- 350 ml de caldo de galinha
- 350 ml de vinho branco seco
- 50 g de amêndoas torradas
- 1 boa pitada de fios de açafrão
- 1 raminho de salsa
- 1 colher (sopa) de concentrado de tomate
- 3 colheres (sopa) de azeite
- sal & pimenta moída na altura
Preparação
Aquecer o azeite numa caçarola (de barro, de preferência). Juntar os alhos esmagados e alourar sem deixar queimar. Eliminar os alhos e adicionar os pedaços de frango. Dourar de todos os lados e retirar da caçarola. Reservar.
Na mesma caçarola, refogar a cebola picada até esta se apresentar mole e transparente. Adicionar os tomates picados e cozinhar em fofo brando por 10 minutos.
Colocar novamente os pedaços de frango na caçarola. Regar com o vinho branco e o caldo. Levar a ferver. Temperar com sal e pimenta. Baixar o fogo e cobrir com uma tampa. Deixar estufar em fogo brando até o frango ficar bem cozido.
Picar as amêndoas, a salsa e as gemas cozidas. Colocar numa tigela pequena e juntar o açafrão, assim como o concentrado de tomate. Adicionar um pouquinho do molho do frango e misturar muito bem. Deixar repousar um pouco e juntar a mistura à caçarola 10 minutos antes do final da cozedura.
Retificar os temperos e servir de seguida.
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