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Os 40 anos do filme Emmanuelle e os dois anos da perda da maravilhosa Sylvia Kristel: homenagens.

Sylvia Kristel foi um de meus grandes amores cinematográficos. Acompanhei seus passos desde 1973, na primeira notícia que o filme Emmanuelle abalava Paris e a Europa. Os amigos de Portugal em 1975 me escreviam cartas contando que Emmanuelle 2, L'Antivièrge era dez vezes mais "forte"...As revistas mostravam algumas fotos e 1001 ensaios chiques com a heroina erótica.

Em 1977 ela vem a São Paulo lançar um filme que Francisco Lucas importou chamado La Marge, e batizado de Porque Agrado aos Homens. FJ Lucas temia o fracasso devido ao filme estar totalmente cortado pela censura terrível daqueles anos. Não tinha pé nem cabeça.





Fui ao Hilton Hotel na coletiva de Sylvia, pedi autógrafos nas fotos do filme concorrente "Femme Fidel" de Vadim que era da Condor. Ela viu os desenhos e tarjas pretas sobre seus seios nus e riu muito. Mas pareceu magra demais, anêmica, era um ser estranho, mas na mesma medida fascinante. 

Sylvia foi ao Rio de Janeiro passar uns dias e a TV Globo até a encaixou na novela Espelho Mágico onde a fabulosa canção tema de Emmanuelle - do mago Pierre Bachelet- era entoada.



Não tinha idade para entender que já era alcoólatra e viciada e cocaína (conto isso, porque ela mesma antes de morrer revelou tudo com detalhes na autobiografia NUE). 


Em 1977 passeou muito por São Paulo - entregou o Prix Molière daquele ano com uma toca de strass inesquecivel- e, na porta do Cine Marabá, presenciou uma ação dos trombadinhas e achou que fosse parte do cerimonial. Foi a Brasília pedir em vão a liberação para Abi Ackel de Emmanuelle, que estava proibido. Jantou no L'Absinhe na Rua Bela Sintra e caiu da escada, já alta de vodca. Linda, etérea.



Foi morar em Los Angeles no mesmo prédio de Beth Davis, que encontrava no elevador. Lá fez um monte de filmes ruins e um grande sucesso, a tal de Private Lessons- Uma professora muito especial, inexplicável mega sucesso. Mas também horrores como A Viúva Drácula e Red Heat-Inferno Vermelho com a...Linda Blair. Horroroso.




Em 1982 voltou para São Paulo, já pela Colúmbia Pictures para divulgar uma produção de luxo dos israelenses Menachem Golan e Yoram Globus dirigida pelo memso Just Jaeckin de Emmanuelle. Era o bonito O Amante de Lady Chatterley, erótico e chic e ela esplendorosa.


Nesta época ficamos mais amigos e eu radiante. Sabia tudo sobre ela, numa época que internet era ficção científica. Adorava dançar, pintar, parecia inteligentíssima e vivia num mundo secreto só dela. Era tímida, tinha várias facetas;





Hospedada no Caesar Park, almoçou e tomou cerveja com minha madrinha do colunismo a grande Dulce Damasceno.Me contou que não gostava muito da Faye Dunaway.
Eu já fazia parte do mundo envantado das Boates Régine's, cuja mais luxuosa - e problemática- se localizava em São Paulo, na Faria Lima. Madame Régine ao saber me ordena que Sylvia Kristel, sua amiga, seja VIP todas as noites Chez Elle.Ao retornar a Paris, Sylvia ganhou um jantar na Rue de Ponthieu- a boate local- junto com Sammy Davies Junior que em seguida se apresentou no hotel Maksoud Plaza em fase inaugural. As coisas se cruzavam muito naqueles anos de poucos Vips na Terra.









Acho que sua descida aos infernos foi em Los Angeles depois do casamento com o mediocre ator Iann McShane, que no livro ela poupa dando um nome parecido, mas não exato. Viciada em cocaína em último grau, teve uma história com Warrean Beatty, como toda Hollywood aliás.







Separada voltou à França, teve outros maridos e acabou com um deles - o playboy judeu sefardí André Djouiaos- aos tapas e sopapos...na mesma Boate Régine's...
Ainda fez um belo filme com os amigos oportunistas Yoram & Globus, o Mata Hari de algum sucesso e bastante erotismo chique. E sempre um monte de filmes de TV a cabo Emmanuelle no meio. Tudo confuso.
Sumiu da mídia, foi perseguida pelo imposto de renda francês injustamente. Fugiu de volta para Holanda. Acabou num quartinho em sua cidade natal Ultrecht, onde foi enterrada. 
Eu e o cantor Gilbert - outro grande admirador- tentamos de tudo para achá-la, até através de uma amiga secretária da presidência do Banco Holandês...nada, nada...

Pintou belos quadros no fim da vida e em Portugal encontrou um reconhecimento e carinho que o mundo não lhe deu. Escreveu um livor quando sentiu que ia morrer "porque o celulóide é frágil e as palavras se eternizam". Contou tudo.
Veio um câncer de gargante com muitas complicações a partir de 2010.Muitas operações cruéis.Tudo foi filmado - a exemplo do que também fez a musa da TV Farrah Fawcett-  mas eu nunca quis ver. Em 2012 veio o AVC e o longo coma. Seu filho Arthur avisou os amigos que era irreversível. A mídia francesa se sensibilizou, mas era tarde.
De Sylvia tenho uma saudade imensa, de Emmanuelle, nada...
Acho que foi assim, mais ou menos isso...
(Ovadia Saadia)

**

Emmanuelle por Alfredo Sternheim

Aos 40 anos de existência, famoso filme erótico é lançado em Blue Ray

C&N- outubro de 2014




Desde 1914, quando Theda Bara se apresentou sensual e provocante em filmes onde atentava contra o pudor mostrando o tornozelo (pasmem), o erotismo sempre foi forte no cinema. E em cada época, algumas realizações causaram impacto. Caso do tcheco Êxtase (1930), com cenas de nudez total da bela Hedy Lammar (de Sansão e Dalila). Dos franceses Os Amantes (1958), de Louis Malle, com Jeanne Moreau gemendo nos momentos de felação praticados nela por Jean-Marc Bory, e E Deus Criou a Mulher, com Brigitte Bardot. Do italiano O Último Tango em Paris (1974), com os momentos em que Marlon Brando passava manteiga em Maria Schneiderdurante uma cena de sodomia.
No mesmo ano em que foi lançado esse filme de Bernardo Bertolucci, a França apresentava Emmanuelle(Emmanuelle). Era a segunda versão de um livro de sucesso escrito por Emmanuelle Argan. A primeira, Io Emmanuelle, feita na Itália em 1969 com Erica Blanc, passou em brancas nuvens. Esta resultou em um extraordinário êxito de bilheteria. Desde a sua estreia em junho de 1974, permaneceu em exibição em um mesmo cinema em Paris por mais um ano. Mas no Brasil, foi proibida pela Censura da ditadura militar. Por isso, quem ia para a Europa sempre incluía uma espiada no filme.
Eu fiz isso em novembro de 1975 na minha primeira noite em Paris. Na ocasião, a saga daquela mulher casada que se entrega a homens e mulheres desde a viagem para encontrar o marido em Bangkok, causava uma forte impressão. Quarenta anos depois, é natural que a auspiciosa evolução dos costumes, que inclui anos seguidos de sexo explícito no cinema após o lançamento de O Império dos Sentidosem 1976, se encarregou de diluir o impacto inicial. Mesmo assim, não é (ainda) um filme para a sessão da tarde das TVs abertas. Mas é possível entender as razões de seu sucesso junto ao público de diversas nações e classes sociais.


O universo íntimo de uma mulher fogosa foi exposto por uma narrativa clean, elegante não só na escolha dos personagens, mas também na visualização criada, toda em cores suaves. Estreando na direção aos 34 anos, o francês Just Jaeckin mostrou-se inseguro no ritmo. Ou talvez essa impressão seja mais de agora. No entanto, apesar da nudez frontal das mulheres, do gestual explícito com as mãos, até hoje éevidente o seu empenho em não vulgarizar o sexo. Inclusive na sequência em que a protagonista é possuída por dois tailandeses.
Esse refinamento, fruto de sua atividade como fotografo de revistas sofisticadas, deve ter sido também a razão da escolha de Sylvia Krystel para o papel-título. Nascida na Holanda, ela tinha atuado em três filmes no seu país quando foi contratada por Jaeckin. Seu êxito mundial acabou sendo o seu estigma; os cineastas apenas a viam como um símbolo erótico. E nessa condição, participou de várias continuações de Emmanuelle, todas mais fracas. Por isso, quando veio ao Brasil em 1979 (ano em que o nosso governo liberouEmmanuelle) para promover o belo O Amante de Lady Chaterley que fez sob as ordens de Jaeckin, foi focada só nesse aspecto que, de certa maneira, ela não repudiava. Como tal, chegou a ser recebida no Congresso Nacional por inúmeros dos incansáveis e produtivos (estou sendo irônico) membros daquela instituição que continua sendo uma das mais caras (em dinheiro) da nação. Na ocasião, mostrou interesse também em trabalhar na versão cinematográfica do livro Elza & Helena que eu iria dirigir para o produtor Oswaldo Massaini. Infelizmente, o projeto não se concretizou. Não a conheci, mas tenho uma foto com simpática dedicatória que me foi passada pela inesquecível amiga e jornalista Dulce Damasceno de Brito.
Revendo Emmanuelle nessa edição luxuosa, fica claro que ela é a razão de forte empatia do filme. A atriz, que faleceu em 12 de outubro de 2012 algumas semanas depois de completar 60 anos, agregou total candura à volúpia da personagem. Sem desqualificar os méritos da produção, creio que o filme não seria o mesmo caso não contasse com essa mulher carismática.
Alfredo Sternheim é cineastajornalista e escritor
Emmanuelle (Emmanuelle França - 1974 – 105´ Direção: Just Jaeckin Com: Sylvia Krystel, Alain Cuny, Daniel Sarky, Marika Green, Christine Boison, Jeanne Colletin, Gabriel Briand, entre outros.
Blu-rayMenu interativo - Seleção de cenas TelaWidescreen Anamórfico ÁudioDolby Surround 5.1 DTS-HD Master Áudio 7.1Idioma originalfrancês Legendasportuguês e outros idiomas Extras: Um sucesso erótico - Entrevistas com o diretor e outros – Acompanha cinco cards e pôster de tecido.
DistribuiçãoUniversal
(Site Marcelo Pestana e Carlos Cirne- C& N)
****
Matéria Site Ovadia Saadia de 24.04. 2009
Em 1973, um filme erótico oportunista, medíocre e  - filmado com requintes de câmera flou e filtros de luz na Tailândia -  causou mídia e comoção mundial e foi visto até hoje por mais de 100 milhões de pessoas em todo planeta: Emmanuelle, dirigido pelo fotógrafo de moda (Vogue, Elle e Marie Claire) Just Jaeckin, que até os anos 90 teve 20 continuações. Sua heroína – só dos cinco primeiros - era uma holandesa de beleza intensa, cara de anjo, ex- miss de pais alcoólatras, a infância passada no hotel turístico da família em Ultrecht, sem amor: ela é Sylvia Kristel. O sucesso foi imenso, intenso, escandaloso. Para Sylvia, uma maldição. Casada com o escritor Hugo Klaus, teve um filho (Arthur hoje com 31 anos) em plena glória. “Precisava de carinho e de ser amada – e notada - pelas pessoas”, confessa. Tirou a roupa, nu frontal ousado, fez as famosas cenas tórridas de sexo (simulado) no avião, com mulheres, em público. Filmou em seguida com os grandes diretores do cinema francês, sem grandes sucessos. Foi para Hollywood em 1980 onde conheceu o sucesso (com Private Lessons- Uma Professora Muito especial e O Amante de Lady Chaterlay do mesmo Jaeckin) e depois o fracasso (Aeroporto 1980-  Concorde com Alain Delon). No meio tempo conheceu um ator britânico Ian MacShane, que a levou ao turbilhão do inferno: festas, orgias com Warren Beatty, álcool e – principalmente- muita cocaína. Após a separação, a depressão e a solidão em Los Angeles, afogados em mais quilos do pó. Os 300 mil dólares que ganhava por filme sustentavam o vício e uma vida de muito luxo longe do filho. Os dois casamentos seguintes foram criminosos e a levaram à falência e perseguição por parte do fisco francês. Chegou de volta à Holanda natal em 1992 só com a roupa do corpo.



“- no início dos anos 90 eu não tinha mais fígado, nem nariz, os médicos não acreditavam como eu estava viva. Minha agente, quando eu chegava a menos de 40 quilos me internava em sua casa com uma dieta a base de doses cavalares de creme de amendoim com bananas”,
 conta sem pudor hoje aos 54 anos no seu livro que lançou na Europa, “NUE” (Nua, inédito no Brasil). O motivo do livro tão revelador: o câncer: em 2001 na garganta e 2004 no pulmão: foi o preço de tanto álcool de droga, assume. Em meio às sessões da quimioterapia, a pintura hoje a ajuda a viver em seu modesto apartamento de 60 metros em Amsterdã. Vive de sua arte e de algumas entrevistas na TV francesa e na Alemanha e no Japão, onde continua idolatrada.
 “Quis deixar este livro como um legado e um alerta, as palavras impressas tem mais força que a película, que é tão frágil. Não sei se sobreviverei, mas não me arrependo de nada, tenho até um misto de carinho e pena de Emmanuelle...foi uma vida intensa e sem igual”, conclui Sylvia, por telefone, numa noite de sábado, quando as tulipas florescem no início do verão holandês.



BOX Especial- Sylvia Kristel
Lembranças de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília

 No auge da glória Sylvia esteve em 1977 em São Paulo, a convite da distribuidora de Francisco Lucas (FJLucas) e Paulo Sá Pinto para o lançamento do seu melhor filme, o lindo, mas hoje esquecido “Porque agrado aos homens- La Marge” do mago do erotismo Walerian Borowczyc (1926- 2006). Ficou hospedada no Hilton Centro SP. Foi a Brasília – com um chapéu com uma imensa pluma de faisão que cutucava todos os políticos involuntariamente- pedir a liberação de Emmanuelle, em vão (o filme só seria liberado na abertura de 1980). Seus porres de vodca no café-da-manhã são lembrados até hoje por quem trabalhou no Hilton: “foi preciso esbofeteá-la para que se comportasse e acalmasse”, lembra o RP do Hilton Maurício Kus. “Estava na embriaguez da fama”. Veio com seu assessor de imprensa Jacques Itah, “posou com a camiseta do Corinthians no aeroporto para Manchete, mas se trocou na frente de todos, um topless inesquecível”, lembra o crítico de cinema e editor da revista Go Where SP, Celso Arnaldo Araújo. Sylvia ainda badalou no chique Club L’absinthe, da Haddock Lobo, Jardins, onde caiu da escadaria e gravou belas cenas para a novela da TV Globo Espelho Mágico. Deixou alguns amigos locais.





Em 1982, mais comportada, veio estrelíssima com esquema de grande estúdio internacional pela Colúmbia Pictures promover o sensual e bonito “O amante de Lady Chaterlay”, cujos produtores israelenses, os oportunistas Menahem Golan e Yoram Globus ( que produziram várias fitas de Sylvia em seu pós-sucesso, como o bacana Mata Hari) transformaram num pornô-de-luxe. Ficou no Caesar Park Augusta e Ipanema. Ainda belíssima, estava separada do picareta McShanne (o marido que a espancava e depois se ajoelhava; e juntos cheiravam todo pó de Los Angeles, NR), que no livro é gentilmente e desnecessariamente poupado e chamado apenas de Ben. Deu entrevistas inteligentes, estava feliz e cheia de planos.
 ***

'Adeus, Emmanuelle': Sylvia Kristel é enterrada na Holanda

Publicação: 26/10/2012 15:32 Atualização: 26/10/2012 15:36
Haia - A atriz holandesa Sylvia Kristel, que estrelou o clássico do cinema erótico Emmanuelle, foi sepultada após uma cerimônia simples e comovente em sua cidade natal, Utrecht, nesta sexta-feira (26/10), informou sua agente.


A atriz, cujo papel foi símbolo da revolução sexual dos anos 1970, morreu em 18 de outubro aos 60 anos devido a um câncer.
O francês Just Jaeckin, diretor de Emmanuelle, também participou da homenagem íntima em uma funerária.
Clipes de seus filmes foram transmitidos após o enterro do corpo de Kristel no cemitério de Utrecht, disse Nina Ziegler, agente da atriz.


Kristel chegou à fama em 1974, aos 22 anos, com seu primeiro filme, Emmanuelle, que contava as aventuras eróticas de uma jovem na Ásia.
**
A Homenagem em Portugal: No crepúsculo dos holofotes de uma presença e fama planetária, Sylvia Kristel esteve em Portugal a convite do festival de cinema AVANCA 2006.
O tempo de actriz dava nessa altura espaço à memória criativa no espaço do cinema de animação.
Nesse ano, o festival abriu com a exibição do filme “Topor e Moi”, um inesperado e surpreendente filme que marcava a estreia de Sylvia Kristel na realização e também no mundo dos desenhos animados. Ali se recria a memória da cena artística de Paris no início da sua carreira. Hugo Claus, W.F.Hermans, Vadin e obviamente Roland Topor, que tinham já ganho vida nos quadros de Sylvia Kristel (Topor foi seu professor de pintura), são de novo recriados neste filme pleno de sensibilidades, memórias e reflexões que marcaram o seu olhar maduro.
A uma pintura plena de corpos, rostos e cores de quase meia estação, juntou-se o cinema como potenciador gráfico, impulsionador dos movimentos perceptíveis e narrador das histórias que lhe eram urgentes contar.
O cinema parecia ter mudado de estação para Sylvia Krystel.
Em Avanca, a actriz experimentou algo novo - orientar um workshop.
Dirigindo em Avanca “Cinema e pintura – um espaço criativo para protagonistas” Sylvia procurou, à semelhança do seu filme, contar histórias de protagonistas por entre as práticas do cinema, da pintura e da liberdade que juntas, estas artes potenciam. Kristel, protagonista do papel da mais célebre personagem do cinema erótico europeu, viu o seu êxito rapidamente transposto para a escala global num dos raros momentos em que o cinema europeu ocupou o lugar cimeiro da exibição cinematográfica planetária, ultrapassando rapidamente a mítica fasquia dos 100 milhões de espectadores.
A personagem “Emmanuelle” deu origem a uma sequela de filmes. O primeiro, realizado por Just Jaekin, consolidou um género cinematográfico de que este filme é a sua maior expressão.
Por entre dezenas de personagens que Sylvia Kristel foi protagonizando ao longo de uma carreira com mais de meia centena de filmes, um destaque muito especial para “Alice” de Claude Chabrol, onde tem uma das suas melhores interpretações. Nos últimos anos, participou sobretudo em produções holandesas, nomeadamente com Dorna van Rouveroy e Ruud Den Dryver, produtores das suas incursões na realização cinematográfica e sobretudo seus amigos.
Sylvia faleceu esta noite.
No apagar da luz, certamente que por entre o crepúsculo, uma nova estrela nos dirá que o eros não é palavra vã e participa na liberdade de voar com que se escreve cada uma das nossas vidas.
Do AVANCA, um adeus e palmas a Sylvia Kristel.
18-10-2012

*****
A Homenagem de Rubens Ewald Filho:

Hoje pode não dizer muito, mas houve momento em que ser Emmanuelle queria dizer muito. Símbolo sexual da geração dos anos 70-80, vinda da inesperada Holanda, Sylvia Kristel esteve algumas vezes na Brasil. Estive com ela numa entrevista exclusiva, onde ela impressionava pela pele muito clara (nunca tomava sol, insistia), por ser uma moça muito discreta, educada. Nada escandalosa como seus filmes faziam supor. Sylvia morreu de câncer dia 18 de outubro e estava internada num hospital desde julho, quando teve um derrame. Tinha 60 anos e há algum tempo tinha perdido tudo.

Tudo tinha acontecido por causa de um filme de 1974 que no final das contas não era nem tão ousado, nem muito bom. Mas virou uma lenda. As pessoas viajavam para Paris para assisti-lo e comentar as cenas (também não especialmente fortes a não ser por um show de boate em Bangkok onde se fumava de forma não convencional). Era o que se chamava de pornô chique, não explicito, mas sugestivo, o que manteve o filme em cartaz durante anos em particular nos Champs Elysées. Aqui sua última edição saiu em DVD:Emmanuelle, O verdadeiro e original(Emmanuelle, 73)
Foram tantas as imitações que quando chegou ao Brasil, em 1980, recebeu o título de Emmanuelle, a Verdadeira. Lançado em DVD como filme erótico e não como um clássico. Enorme sucesso no mundo todo (na França ficou mais de 300 semanas em cartaz, virou atração turística e foi visto por sete milhões de pessoas). No Brasil, originalmente, sofreu um corte da censura (na cena em que a mulher “fuma pelo sexo”).



A fotografia era requintada, parecendo filme publicitário, e foi apelidada de “pornô-chique”. Mas a cópia desta versão lançada em home vídeo deixa a desejar. O livro original de Emmanuelle Arsan foi escrito em 1957 e ficou proibido durante o governo De Gaulle. Seu maior enfoque é o homossexualismo feminino. Não há muita lógica ou motivação. As cenas de sexo são gratuitas e não muito convincentes. Mesmo assim provocaram escândalo e tiveram muita influência. Há muitos encontros lésbicos não explícitos e ao final uma cena com sodomia masculina. Valeu também como revelação da holandesa Sylvia Kristel, de uma beleza de porcelana. Teve inúmeras continuações.
Sylvia nasceu em 28 de setembro de 1952, em Utrecht. Descoberta pelo diretor Jaeckin, ela fez mais duas continuações  antes de tentar a carreira em filmes europeus (como Julia e os Homens, 74) e até em filmes americanos, fazendo uma aeromoça com Alain Delon, em Aeroporto, Concorde (79), A bomba que desnuda (80), comédia que tentou reviver os atores da sérieMaxwell Smart, a comédia erótica Uma Professora muito Especial (81), que foi bastante bem-sucedida (era professora/governanta que seduz o aluno do garoto de 15 anos Eric Brown).
Esteve ainda em outros filmes como uma versão de O Amante de Lady Chatterley (81), a comedia italiana Amor na Primeira Classe (80, de Salvatore Samperi), O Quinto Mosqueteiro (79),Casanova o maior amante de todos os temposO Gângster René La Canne (de arte), de Francis Girod, Alice ou A Última Fuga, de Chabrol, (76), A Margemde Valerian Borowicz, (76), Uma Mulher Fielde Roger Vadim (76); O Jogo com o Fogo (Le Jeu avec le Feu), de Alain Robe; Grillet, (75), A Grande ApostaMata Hari, de Curtis Harrington (85), Mistérios,com Rutger Hauer, Leito Selvagem, ultimo filme de Luigi Zampa (79), Por que eu Agrado aos Homens (de arte), Sangue Quente , Presidio Estrada do Inferno, Viúva Drácula, Un Linceul na paz de Poche, de Jean-Pierre Mocky (74). Seus dois últimos filmes foram Two Sunny Days (2010) e o telefilme Le Ragazze dello Swing (2012).
E sem esquecer ainda varias continuações deEmmanuelle, como Gooobye Emmanuelle e mais uma série feita para a TV, em 93, Emmanuelle no Sétimo Ceu,  O Segredo de Emmanuelle, Beauty School, O Perfume de Emmanuelle, A Magia de Emmanuelle, O Amor de Emmanuelle, Veneza com Emmanuelle, A Vingança de Emmanuelle, Para Sempre Emmanuelle.

Falava holandês, inglês, francês e italiano mas não teve sorte na sua vida particular. Foi casada com o diretor Philipe Blot (divórcio em 1991) e teve que recorrer a pontas em outros filmes.
Fica a lembrança de uma bela mulher, discreta e recatada demais para ser atriz. Teve chances em outros papéis e com diretores importantes, mas nunca correspondeu, não tinha fôlego para coisas mais importantes. Foi outra que teve que viver com uma imagem sensual que tinha pouco a ver com ela! (REF)




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  • Comentários

    1. Nunca foi a favorita do público brasileiro

      ResponderExcluir
    2. O livro NUE merecia ser lançado no Brasil, pela coragem em contar tudo

      ResponderExcluir
    3. Folha de SP 1977, comenta a presenã em São Paulo: "Pálida, nervosa e magra demais", Sylvia Kristel visitou SP há 35 anos
      DE SÃO PAULO

      A visita da atriz holandesa Sylvia Kristel --que ficou famosa por protagonizar "Emanuelle", em 1974-- a São Paulo foi acompanhada pela Folha e descrita, no dia 18 de outubro de 1977, como "uma decepção". Kristel morreu nesta quinta (18), aos 60, em decorrência de um câncer.

      Emanuelle, o fenômeno que seduziu uma geração
      Morte de 'Emmanuelle' é um dos destaques no Twitter

      "Seria possível que todo o mito, toda a propaganda e a 'sensação' criadas em torno de um personagem se resumissem apenas naquela figura magérrima, de pele muito clara e cabelinhos curtos e encaracolados?", dizia a reportagem da "Ilustrada". "A Sylvia que surgiu no 5º andar do Hotel Hilton não era o que o público masculino tanto esperava." Veja a página no Acervo Folha

      Havia grande expectativa em relação à visita da atriz. No dia anterior, a "Ilustrada" havia publicado o texto "Sylvia, a proibida, chega hoje". Sylvia Kristel era conhecida no Brasil mais pela fama do que por "Emanuelle" em si --o filme era proibido no país e só seria liberado em 1980.

      Sylvia Kristel
      "Os convidados estavam mesmo interessados na Emanuelle, que nenhum deles tinha visto, mas a respeito da qual tinham ideias sugestivas, assunto que não parecia agradar a Sylvia e a seu empresário, muito mais interessados em vender o seu novo filme, 'Porque Agrado os Homens' ou originalmente 'La Marge', do polonês Walerian Borowczyk."

      Mais adiante, a revelação da censura para Kristel. "Uma grande novidade para Sylvia foi a informação de que seu tão falado 'Emanuelle' tinha sido proibido no Brasil, o que provocou a observação de que 'os ministros da Justiça nunca têm senso de humor' e a promessa de tentar um encontro em Brasília --para onde vai quarta-feira-- com os responsáveis pela proibição do filme."

      No dia seguinte à visita, a Folha trouxe o relato "Sylvia, futura deputada", que descrevia "a maior surpresa de Sylvia Kristel no Congresso: a existência de um partido de oposição". Veja a página no Acervo Folha.

      "Ao conhecer o Congresso Nacional na manhã de ontem [19 de outubro de 1977], a atriz Sylvia Kristel espantou-se com duas coisas: a existência, no país, de um partido legal de oposição, o MDB; e o fato de muitos e importantes brasileiros conhecerem o seu filme 'Emanuelle', embora ele seja proibido no Brasil."

      Na ocasião, Sylvia Kristel disse que pretendia se candidatar a deputada na Holanda "para defender os direitos femininos". Ela passou quase uma hora na Casa, "conhecendo os gabinetes dos presidentes do Senado, Petrônio Portela, e da Câmara, Marco Antônio Maciel". Segundo o texto, Maciel "comentou com a atriz algumas cenas do filme 'Emanuelle', mas sem dizer onde o assistiu".

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